Allan Kardec: o professor e o codificador

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Duas são as fases em que se pode dividir a vida de Allan Kardec: a primeira, como o consagrado professor Rivail; a segunda, como o Codificador do Espiritismo. Destacaremos, a seguir, os aspectos mais importantes de sua luminosa trajetória pela Terra.

O menino Hippolyte

  1. Nascimento

    Allan Kardec, cujo verdadeiro nome é Hippolyte Léon Denizard Rivail, nasceu na cidade de Lyon(França), a 3 de outubro de 1804, no seio de antiga família lionesa, de nobres e dignas tradições. Foram seus pais Jean-Baptiste Antoine Rivail, magistrado íntegro, e Jeanne Louise Duhamel [...]. O futuro codificador do Espiritismo recebeu um nome querido e respeitado e todo um passado de virtudes, de honra e probidade. Grande número de seus antepassados se tinham distinguido na advocacia, na magistratura e até mesmo no trato dos problemas educacionais. Bem cedo, o menino se revelou altamente inteligente e agudo observador, denotando franca inclinação para as ciências e para os assuntos filosóficos, compenetrado de seus deveres e responsabilidades, como se fora um adulto 12.

  2. Primeiros estudos. O Instituto de Yverdon

    Conforme nos conta Henri Sausse [biógrafo de Kardec], Rivail realizou seus primeiros estudos em Lyon, sua cidade natal, sendo educado dentro de severos princípios de honradez e retidão moral. É de se presumir que a influência paterna e materna tenham sido das mais benéficas na sua infância, constituindo-se em fonte de nobres sentimentos. Com a idade de dez anos, seus pais o enviam a Yverdon (ou Yverdun), cidade suíça do cantão de Vaud, situada na extremidade S. O. do lago Neuchâtel e na foz do Thiele, a fim de completar e enriquecer sua bagagem escolar no célebre Instituto de Educação ali instalado em 1805, pelo professor-filantropo João Henrique Pestalozzi [...]. Frequentado todos os anos por grande número de estrangeiros, citado, descrito, imitado, era, numa palavra, a escola modelo da Europa 15.

    Altas personalidades políticas, científicas, literárias e filantrópicas voltavam maravilhadas de suas visitas ao famoso Instituto. Louvaram o criador dessa obra revolucionária, e por ela também se interessaram Göethe; o rei da Prússia, Frederico Guilherme III, e sua esposa Luísa; o czar da Rússia, Alexandre I; o rei Carlos IV da Espanha; os reis da Baviera e de Wurtemberg; o imperador da Áustria; a futura imperatriz do Brasil, D. Leopoldina de Áustria, e muitos expoentes da nobreza europeia e do mundo cultural 16.

    O menino Denizard Rivail, ao qual os destinos reservariam sublime missão, logo se revelou um dos discípulos mais fervorosos do insigne pedagogista suíço [...].

    Possuidor de inteligência penetrante e alto espírito de observação, e, ainda mais, inclinado naturalmente para a solução dos importantes problemas do ensino e para o estudo das ciências e da filosofia – Rivail cativou a simpatia e a admiração do velho professor, deste se tornando, pouco depois, eficiente colaborador. Os exemplos de amor ao próximo fornecidos por Pestalozzi [para quem o amor é o eterno fundamento da educação] norteariam para sempre a vida do futuro Codificador do Espiritismo. Aliás, até mesmo aquele bom-senso, que Flammarion com felicidade aplicou a Rivail, foi cultivado e avigorado com as lições e os exemplos recebidos no Instituto de Yverdon, onde também lhe desabrocharam as ideias que mais tarde o colocariam na classe dos homens progressistas e dos livres-pensadores 13.

O professor Rivail

  1. As obras didáticas

    Sem dúvida, chegando à capital da França, Denizard Rivail logo se pôs a exercer o magistério, aproveitando as horas vagas para traduzir obras inglesas e alemãs, e para preparar o seu primeiro livro didático 17. Assim é que em dezembro de 1823, lançou o Curso Prático e Teórico de Aritmética, segundo o método de Pestalozzi, com modificações. O Cours d ́Arithmétique (Curso de Aritmética) constituiu a primeira obra de cunho pedagógico e a primeira entre todas as demais dadas a público por Rivail. O futuro Codificador do Espiritismo, com apenas dezoito anos de idade [...], empregara esforços e talento na preparação do utilíssimo livro, assentando-o em bases pestalozzianas, mas com muitas ideias originais e práticas do próprio autor. A obra em questão era recomendada aos institutos e às mães de família que desejassem dar aos seus filhos as primeiras noções de Aritmética, e primava pela simplicidade e clareza, qualidades estas que são, aliás, o principal mérito de todas as publicações de Rivail-Kardec. O método por ele empregado desenvolve gradualmente as faculdades intelectuais do aluno. Este não se limita a reter as fórmulas pela memória: penetra-lhes a essência, por assim dizer 18.

    Além dessa obra, Rivail publicou numerosos livros didáticos, bem como planos e projetos dirigidos a reformado ensino francês, numa verdadeira fertilidade pedagógica, no dizer de Wantuil e Thiesen 22. Destacaremos, dentre outras, as seguintes obras: Curso Completo Teórico e Prático de Aritmética (1845); Plano Proposto para a Melhoria da Educação Pública (1828); Gramática Francesa Clássica (1831); Qual o Sistema de Estudos Mais em Harmonia com as Necessidades da Época? (1831); Memória sobre a Instrução Pública (1831); Manual dos Exames para os Títulos de Capacidade (1846); Soluções dos Exercícios e Problemas do Tratado Completo de Aritmética (1847); Projeto deReforma no tocante aos Exames e aos Educandários para meninas (1847); Catecismo Gramatical da Língua Francesa(1848); Ditados Normais dos Exames (1849); Ditados da Primeira e da Segunda Idade (1850); Gramática Normal dos Exames (com Lévi-Alvarès –1849); Curso de Cálculo Mental (1845, ou antes); Programa dos Cursos Usuais de Física, Química, Astronomia e Fisiologia (1849, provavelmente) 14.

  2. O ensino intuitivo

    Como não podia deixar de ser, Rivail utilizou-se do ensino intuitivo, processo didático preconizado por Pestalozzi e, segundo o qual, se transmite ao educando a realização, a atualização da ideia, recorrendo-se aos exercícios de intuição sensível (educação dos sentidos), com passagem natural a atividades mentais que preludiam a intuição intelectual. A ideia existe originariamente na criança, e a intuição sensível é somente a sua realização concreta, único meio de a ideia se tornar compreensível, porque se encontra como força modeladora que vive e atua na criança. O ensino intuitivo se funda na substituição do verbalismo e do ensino livresco pela observação, pelas experiências, pelas representações gráficas, etc., operando sobre todas as faculdades da criança. A base da instrução elementar de Pestalozzi – afirmou Jullien de Paris – é a INTUIÇÃO, que ele considera como o fundamento geral de nossos conhecimentos e o meio mais adequado para desenvolver as forças do espírito humano, da maneira mais natural 19.

  3. O exercício das funções diretivas e educativas

    Tendo fundado em 1826, em Paris, a Instituição Rivail 20, o jovem professor aí exerceu funções diretivas eeducativas, desenvolvendo notável trabalho de aprimoramento da inteligência de centenas de educandos, aos quais ele carinhosamente chamava meus amigos. Deve-se ressaltar que tanto na Instituição, como em muitos outros de seus empreendimentos, Rivail pôde contar com o apoio e a dedicação da Profª Amélie-Gabrielle Boudet, com quem se casara em 1832 21.

    Foi no decorrer de sua carreira de instrutor-filantropo que Rivail exercitou a paciência, a abnegação, o trabalho, a observação, a força de vontade e o amor às boas causas, a fim de melhor poder desempenhar a gloriosa missão que lhe estava reservada 23.

    Assim, antes mesmo que o Espiritismo lhe popularizasse e imortalizasse o pseudônimo Allan Kardec, já havia Rivail firmado bem alto, no conceito do povo francês e no respeito de autoridades e professores, a sua reputação de distinguido mestre da Pedagogia moderna, com o seu nome inscrito em importantes obras bibliográficas 23.

A missão

  1. Os primeiros contatos com os fenômenos mediúnicos

    Em meados do século XIX as mesas girantes revolucionaram a Europa, sobretudo a França, chamando a atenção de toda a sociedade, inclusive da imprensa. O professor Rivail, estudioso do magnetismo, assim se expressa, a respeito dos novos fatos:

    Foi em 1854 que pela primeira vez ouvi falar das mesas girantes. Encontrei um dia o magnetizador, Senhor Fortier, a quem eu conhecia desde muito tempo e que me disse: Já sabe da singular propriedade que se acaba de descobrir no Magnetismo?

    Parece que já não são somente as pessoas que se podem magnetizar, mas também as mesas, conseguindo-se que elas girem e caminhem à vontade. — É, com efeito, muito singular, respondi; mas, a rigor, isso não me parecer adicalmente impossível.

    O fluido magnético, que é uma espécie de eletricidade, pode perfeitamente atuar sobre os corpos inertes e fazer que eles se movam. [...] Algum tempo depois, encontrei-me novamente com o Sr. Fortier, que me disse: Temos uma coisa muito mais extraordinária; não só se consegue que uma mesa se mova, magnetizando-a, como também que fale. Interrogada, ela responde. — Isto agora, repliquei-lhe, é outra questão. Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um conto para fazer-nos dormir em pé 2.

    Era lógico este raciocínio: eu concebia o movimento por efeito de uma força mecânica, mas, ignorando a causae a lei do fenômeno, afigurava-se me absurdo atribuir-se inteligência a uma coisa puramente material. Achava-me na posição dos incrédulos atuais, que negam porque apenas veem um fato que não compreendem 3.

    Eu estava, pois, diante de um fato inexplicado, aparentemente contrário às leis da Natureza e que a minha razão repelia. Ainda nada vira, nem observara; as experiências, realizadas em presença de pessoas honradas e dignas defé, confirmavam a minha opinião, quanto à possibilidade do efeito puramente material; a ideia, porém, de uma mesa falante ainda não me entrara na mente 4.

    No ano seguinte, estávamos em começo de 1855, encontrei-me com o Sr. Carlotti, amigo de 25 anos, que me falou daqueles fenômenos durante cerca de uma hora, com o entusiasmo que consagrava a todas as ideias novas [...].

    No ano seguinte, estávamos em começo de 1855, encontrei-me com o Sr. Carlotti, amigo de 25 anos, que mefalou daqueles fenômenos durante cerca de uma hora, com o entusiasmo que consagrava a todas as ideias novas [...]. Passado algum tempo, pelo mês de maio de 1855, fui à casa da sonâmbula Sra. Roger, em companhia do Sr. Fortier, seu magnetizador. Lá encontrei o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison, que daqueles fenômenos me falaram no mesmo sentido em que o Sr. Carlotti se pronunciara, mas em tom muito diverso. O Sr. Pâtier era [...] muito instruído, de caráter grave, frio e calmo; sua linguagem pausada, isenta de todo entusiasmo, produziu em mim viva impressão e, quando me convidou a assistir às experiências que se realizavam em casa da Sra. Plainemaison, à rua Grange-Batelière, 18, aceitei imediatamente 5[...].

    Foi aí que, pela primeira vez, presenciei o fenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam, em condições tais que não deixavam lugar para qualquer dúvida. Assisti então a alguns ensaios, muito imperfeitos, de escrita mediúnica numa ardósia, com o auxílio de uma cesta. Minhas ideias estavam longe de precisar-se, mas havia ali um fato que necessariamente decorria de uma causa. Eu entrevia, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo.

    Bem depressa, ocasião se me ofereceu de observar mais atentamente os fatos, como ainda o não fizera. Numa das reuniões da Sra. Plainemaison, travei conhecimento com a família Baudin, que residia então à rua Rechechouart. O Sr. Baudin me convidou para assistir às sessões hebdomadárias que se realizavam em sua casa e às quais me tornei desde logo muito assíduo. [...] Os médiuns eram as duas senhoritas Baudin, que escreviam numa ardósia com o auxílio deuma cesta, chamada carrapeta e que se encontra descrita em O Livro dos Médiuns.

    Esse processo, que exige o concurso de duas pessoas, exclui toda possibilidade de intromissão das ideias domédium. Aí, tive ensejo de ver comunicações contínuas e respostas a perguntas formuladas, algumas vezes, até, a perguntas mentais, que acusavam, de modo evidente, a intervenção de uma inteligência estranha 6.

  2. Os primeiros estudos sérios de Espiritismo

    Foi nessas reuniões [na casa da família Baudin] que comecei os meus estudos sérios de Espiritismo, menos, ainda, por meio de revelações, do que de observações.

    [...] Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender; percebi, naqueles fenômenos, achave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que eu procurara em toda a minha vida. Era, em suma, toda uma revolução nas ideia se nas crenças; fazia-se mister, portanto, andar coma maior circunspeção e não levianamente; ser positivista e não idealista, para não me deixar iludir 7.

    Um dos primeiros resultados que colhi das minhas observações foi que os Espíritos, nada mais sendo do que as almas dos homens, não possuíam nem a plena sabedoria, nem a ciência integral; que o saber de que dispunham se circunscrevia ao grau, que haviam alcançado, de adiantamento, e que a opinião deles só tinhao valor de uma opinião pessoal. Reconhecida desde o princípio, esta verdade me preservou do grave escolho de crer na infalibilidade dos Espíritos e me impediu de formular teorias prematuras, tendo por base o que fora dito por um ou alguns deles.

    O simples fato da comunicação com os Espíritos, dissessem eles o que dissessem, provava a existência do mundo invisível ambiente. Já era um ponto essencial, um imenso campo aberto às nossas explorações, a chave de inúmeros fenômenos até então inexplicados. O segundo ponto, não menos importante, era que aquela comunicação permitia se conhecessem o estado desse mundo, seus costumes, se assim nos podemos exprimir. Vi logo que cada Espírito, em virtude da sua posição pessoal e de seus conhecimentos, me desvendava uma face daquele mundo, do mesmo modo que se chega a conhecer o estado de um país, interrogando habitantes seus de todas as classes, não podendo um só, individualmente, informar-nos de tudo. Compete ao observador formar o conjunto, por meio dos documentos colhidos de diferentes lados, colecionados, coordenados e comparados uns com outros. Conduzi-me, pois, com os Espíritos, como houvera feito com homens. Para mim, eles foram, do menor ao maior, meios de me informar e não reveladores predestinados 8.

  3. Notícias e desempenho da missão

    Em 12 de junho de 1856, pela mediunidade da senhorita Aline C..., o professor Rivail dirige-se ao Espírito Verdade com a intenção de obter mais informações acerca da missão que alguns Espíritos já lhe haviam apontado: missionário-chefe da nova doutrina. Estabeleceu-se, então, o diálogo que segue:

    Pergunta (à Verdade) –Bom Espírito, eu desejara saber o que pensas da missão que alguns Espíritos me assinalam. Dize-me, peço-te, se é uma prova para o meu amor-próprio. Tenho, como sabes, o maior desejo de contribuir para a propagação da verdade, mas, do papel de simples trabalhador ao de missionário-chefe, a distância é grande enão percebo o que possa justificar em mim graça tal, de preferência a tantos outros que possuem talento e qualidades de que não disponho.

    Resposta –Confirmo o que te foi dito, mas recomendo-te muita discrição, se quiseres sair-te bem. Tomarás mais tarde conhecimento de coisas que te explicarão o que ora te surpreende. Não esqueças que podes triunfar, como podesfalir. Neste último caso, outro te substituiria, porquanto os desígnios de Deus não assentam na cabeça de um homem. Nunca, pois, fales da tua missão; seria a maneira de a fazeres malograr-se. Ela somente pode justificar-se pela obra realizada e tu ainda nada fizeste. Se a cumprires, os homens saberão reconhecê-lo, cedo ou tarde, visto que pelos frutos éque se verifica a qualidade da árvore.

    P. — Nenhum desejo tenho certamente de me vangloriar de uma missão na qual dificilmente creio. Se estoudestinado a servir de instrumento aos desígnios da Providência, que ela disponha de mim. Nesse caso, reclamo a tuaassistência e a dos bons Espíritos, no sentido de me ajudarem e ampararem na minha tarefa.

    R. — A nossa assistência não te faltará, mas será inútil se, de teu lado, não fizeres o que for necessário. Tens oteu livre-arbítrio, do qual podes usar como o entenderes. Nenhum homem é constrangido a fazer coisa alguma.

    P. — Que causas poderiam determinar o meu malogro? Seria a insuficiência das minhas capacidades?

    R. — Não; mas, a missão dos reformadores é prenhe de escolhos e perigos. Previno-te de que é rude a tua, porquanto se trata de abalar e transformar o mundo inteiro. Não suponhas que te baste publicar um livro, dois livros, dez livros, para em seguida ficares tranquilamente em casa. Tens que expor a tua pessoa. Suscitarás contra ti ódios terríveis; inimigos encarniçados se conjurarão para tua perda; ver-te-ás a braços com a malevolência, com a calúnia, com a traição mesma dos que te parecerão os mais dedicados; as tuas melhores instruções serão desprezadas e falseadas; por mais de uma vez sucumbirás sob o peso da fadiga; numa palavra: terás de sustentar uma luta quase contínua, com sacrifício de teu repouso, da tua tranquilidade, da tua saúde e até da tua vida, pois, sem isso, viverias muito mais tempo. Ora bem! não poucos recuam quando, em vez de uma estrada florida, só veem sob os passos urzes, pedras agudas e serpentes. Para tais missões, não basta a inteligência. Faz-se mister, primeiramente, para agradar a Deus, humildade, modéstia e desinteresse, visto que Ele abate os orgulhosos, os presunçosos e os ambiciosos. Para lutar contra os homens, são indispensáveis coragem, perseverança e inabalável firmeza.

    Também são de necessidade prudência e tato, a fim de conduzir as coisas de modo conveniente e não lhes comprometer o êxito com palavras ou medidas intempestivas. Exigem-se, por fim, devotamento, abnegação e disposiçãoa todos os sacrifícios. Vês, assim, que a tua missão está subordinada a condições que dependem de ti 9.

    Após o diálogo com o Espírito Verdade, estando mais lúcido sobre o que lhe competiria fazer daí para diante, Rivail elevou a Deus uma prece, revelando humildade e total submissão aos desígnios superiores. Senhor! Pois que te dignaste lançar os olhos sobre mim para cumprimento dos teus desígnios, faça-se a tua vontade! Está nas tuas mãos aminha vida; dispõe do teu servo. Reconheço a minha fraqueza diante de tão grande tarefa; a minha boa-vontade não desfalecerá, as forças, porém, talvez me traiam. Supre a minha deficiência; dá-me as forças físicas e morais que me forem necessárias. Ampara-me nos momentos difíceis e, com o teu auxílio e dos teus celestes mensageiros, tudo envidarei para corresponder aos teus desígnios 10.

    No que diz respeito ao teor do diálogo travado com o Espírito Verdade, Kardec registra, dez anos depois, asseguintes observações:

    Escrevo esta nota a 1º de janeiro de 1867, dez anos e meio depois que me foi dada a comunicação acima e atesto que ela se realizou em todos os pontos, pois experimentei todas as vicissitudes que me foram preditas. Andei em luta como ódio de inimigos encarniçados, com a injúria, a calúnia, a inveja e o ciúme; libelos infames se publicaram contra mim; as minhas melhores instruções foram falseadas; traíram-me aqueles em quem eu mais confiança depositava, pagaram-me com a ingratidão aqueles a quem prestei serviços. A Sociedade de Paris se constituiu foco de contínuas intrigas urdidas contra mim por aqueles mesmos que se declaravam a meu favor e que, de boa fisionomia na minha presença, pelas costas me golpeavam. Disseram que os que se me conservavam fiéis estavam à minha soldada e que eu lhes pagavacom o dinheiro que ganhava do Espiritismo. Nunca mais me foi dado saber o que é o repouso; mais de uma vez sucumbi ao excesso de trabalho, tive abalada a saúde e comprometida a existência.

    Graças, porém, à proteção e assistência dos bons Espíritos que incessantemente me deram manifestas provas de solicitude, tenho a ventura de reconhecer que nunca senti o menor desfalecimento ou desânimo e que prossegui, sempre com o mesmo ardor, no desempenho da minha tarefa, sem me preocupar com a maldade de que era objeto. Segundo a comunicação do Espírito de Verdade, eu tinha de contar com tudo isso e tudo se verificou.

    Mas, também, a par dessas vicissitudes, que de satisfações experimentei, vendo a obra crescer de maneira tão prodigiosa! Com que compensações deliciosas foram pagas as minhas tribulações! Que de bênçãos e de provas de real simpatia recebi da parte de muitos aflitos a quem a Doutrina consolou! Este resultado não mo anunciou o Espírito de Verdade que, sem dúvida intencionalmente, apenas me mostrara as dificuldades do caminho. Qual não seria, pois, a minha ingratidão, se me queixasse! Se dissesse que há uma compensação entre o bem e o mal, não estaria com a verdade, porquanto o bem, refiro-me às satisfações morais, sobre levaram de muito o mal.

    Quando me sobrevinha uma decepção, uma contrariedade qualquer, eu me elevava pelo pensamento acima da Humanidade e me colocava antecipadamente na região dos Espíritos e desse ponto culminante, donde divisava o da minha chegada, as misérias da vida deslizavam por sobre mim sem me atingirem. Tão habitual se me tornara esse modo de proceder, que os gritos dos maus jamais me perturbaram 11.

  4. O nome Allan Kardec

    Quando da publicação de O Livro dos Espíritos, o autor se viu diante de umsério problema: como assinar o trabalho? E mais uma vez prevaleceu o bom senso do professor Rivail, segundo se depreende das palavras do biógrafo: No momento de publicá-lo – diz H. Sausse [na obra Biographie d ́Allan Kardec 4ª edição, p. 32], o Autor ficou muito embaraçado em resolver como o assinaria, se com seu nome – Hippolyte Léon Denizard Rivail, ou com um pseudônimo.

    Sendo o seu nome muito conhecido do mundo científico, em virtude dos seus trabalhos anteriores, e podendo originar confusão, talvez mesmo prejudicar o êxito do empreendimento, ele adotou o alvitre de o assinar com o nome Allan Kardec, nome que, segundo lhe revelara o guia, [Zéfiro], ele tivera ao tempo dos druidas* [nas Gálias, hoje França] 24.

    * Druidas: Sacerdotes dos gauleses e dos celtas. Não tinham templos, reuniam-se nos bosques e veneravam certas plantas, tais como o visco e o carvalho. Acreditavam na imortalidade da alma e na metempsicose (transmigração da alma emcorpos de animais). Sua filosofia é quase desconhecida, porque não a escreveram, confiando-a à memória de seus discípulos.

  5. As obras espíritas

    Além de O Livro dos Espíritos, saído a lume em 18 de abril de 1857, Kardec escreveu muitas outras obras espíritas, das quais se destacam: A Revista Espírita (1º de janeiro de 1858); O que é o Espiritismo (julho de 1859); O Livro dos Médiuns (15 de janeiro de 1861); O Evangelho segundo o Espiritismo (abril de 1864); O Céu e o Inferno (agosto de 1865); A Gênese (16 de janeiro de 1868). Após a sua desencarnação, foi publicado em 1890, em Paris, por P. G. Leymarie, o livro Obras Póstumas – coletânea de escritos do Codificador do Espiritismo.

  6. A atuação de Kardec na codificação da Doutrina Espírita

    É voz geral entre os estudiosos da Doutrina Espírita – no que diz respeito ao trabalho da codificação – que Kardec não foi simples compilador, tendo sua tarefa ido muito além da coleta e seleção do material, isto é, das mensagens recebidas do mundo espiritual. Sobre este assunto, Wantuil e Thiesen fazem os seguintes comentários:

    Conquanto Kardec sempre repetisse que o mérito da obra cabia todo aos Espíritos que a ditaram, não é menos verdadeiro que a ele é que coube a ingente tarefa de organizar e ordenar as perguntas (e que perguntas!) sobre os assuntos mais simples aos mais complexos, abrangendo variados ramos do conhecimento humano. A distribuição didática das matérias encerradas notexto; a redação dos comentários às respostas dos Espíritos, os quais primam pela concisão e pela clareza com que foram expostos; a precisão com que intitula capítulos e subcapítulos; as elucidações complementares de sua autoria; as observações e anotações, as paráfrases e conclusões, sempre profundas e incisivas; ebem assim a sua notável «Introdução» – tudo isto atesta a grande cultura de Kardec, o carinho e a diligência com que ele se houve no afanoso trabalho que se comprometera a publicar. Kardec fez o que ninguém ainda havia feito: foi o primeiro a formar com os fatos observados um corpo de doutrina metódico e regular, claro e inteligível para todos, extraindo do amontoado caótico de mensagens mediúnicas os princípios fundamentais com que elaborou uma nova doutrina filosófica, de caráter científico e de consequências morais ou religiosas 25.

A desencarnação

Trabalhador infatigável, sempre o primeiro a tomar da obra e o último a deixá-la, Allan Kardec sucumbiu, a 31 de março de 1869, quando se preparava para uma mudança de local, imposta pela extensão considerável de suas múltiplas ocupações.

Diversas obras que ele estava quase a terminar, ou que aguardavam oportunidade para vir a lume, demonstrarão um dia, ainda mais, a extensão e o poder das suas concepções.

Morreu conforme viveu: trabalhando. Sofria, desde longos anos, de uma enfermidade do coração, que só podiaser combatida por meio do repouso intelectual e pequena atividade material. Consagrado, porém, todo inteiro à sua obra, recusava-se a tudo o que pudesse absorver um só que fosse de seus instantes, à custa das suas ocupações prediletas. Deu-se com ele o que se dá com todas as almas de forte têmpera: a lâmina gastou a bainha 1.

Acerca da luminosa existência do mestre lionês, escreve o Irmão X [Espírito Humberto de Campos]: [...] Allan Kardec, apagando a própria grandeza, na humildade de um mestre-escola, muita vez atormentado e desiludido, como simples homem do povo, deu integral cumprimento à divina missão que trazia à Terra, inaugurando a era espírita-cristã, que, gradativamente, será considerada em todos os quadrantes do orbe como a sublime renascençada luz para o mundo inteiro 27.

Referências

ESDE – FEB (Estudo Sistemático da Doutrina Espírita)

1. KARDEC, Allan. Obras póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro. 38. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Biografia de AllanKardec, p. 17.
2. ______. Segunda parte. Item: A minha primeira iniciação no espiritismo, p. 265.
3. ______. p. 265-266.
4. ______. p. 266.
5. ______. p. 266-267.
6. ______. p. 267-268.
7. ______. p. 268.
8. ______. p. 269.
9. ______. Item: Minha missão, p. 281-283.
10. ______. p. 283.
11. ______. p. 283-285.
12. WANTUIL, Zêus. Grandes espíritas do Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002, Allan Kardec, p. 15.
13. ______. p. 17.
14. ______. p. 26-29.
15. WANTUIL, Zêus e THIESEN, Francisco. Allan Kardec. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999, vol. 1, cap. 2 (Formação escolar deRivail...), p. 32-33.
16. ______. p.33.
17. ______. Cap. 14 (Seu primeiro livro), p. 85.
18. ______. p. 88-89.
19. ______. Cap. 16 (Princípios enunciados...), p. 99.
20. ______. Cap. 19 (Instituições pestalozzianas em Paris), p. 110-111.
21. ______. p. 112.
22. ______. Cap. 37 (Fertilidade pedagógica), p. 182.
23. ______. Cap. 38 (Fim da primeira fase), p. 189.
24. ______. Vol. 2, cap. I (A fagulha da renovação), item 6, p. 74.
25. ______. Item 7, p. 84-85.
26. ______. Cap. 3, item 5, p. 201.
27. XAVIER, Francisco Cândido. Cartas e crônicas.Pelo Espírito Irmão X. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Cap. 28, p. 127.

Anexo -Esboço do Sistema Pestalozziano (*)

Analisando o livro de Pestalozzi – Como Gertrudes ensina seus filhos (1801), H. Morf, considerado o autor de uma das melhores biografias do mestre zuriquense, sumariou-lhe assim os princípios pedagógicos:

I – A intuição é o fundamento da instrução.

II – A linguagem deve estar ligada à intuição.

III – A época de ensinar não é a de julgar e criticar.

IV – Em cada matéria, o ensino deve começar pelos elementos mais simples, e daí continuar gradualmente, de acordo com o desenvolvimento da criança, isto é, por séries psicologicamente encadeadas.

V – Deve-se insistir bastante tempo em cada ponto da lição, a fim de que a criança adquira sobre ela o completo domínio e a livre disposição.

VI – O ensino deve seguir a via do desenvolvimento e jamais a da exposição dogmática.

VII – A individualidade do aluno deve ser sagrada para o educador.

VIII – O principal fim do ensino elementar não é sobrecarregar a criança de conhecimentos e talentos, mas desenvolver e intensificar as forças de sua inteligência.

IX – Ao saber é preciso aliar a ação; aos conhecimentos, o savoir faire [saber fazer].

X – As relações entre mestre e aluno, sobretudo no que concerne à disciplina, devem ser fundadas no amor epor ele governadas.

XI – A instrução deve constituir o escopo superior da educação.

Acontece que a experiência de Pestalozzi em Berthoud, junto dos colaboradores, modificaria em alguns pontos o seu método. Ademais, novos ensaios e experiências realizados em Yverdon levariam-no a reformular conceitos, a desenvolver e desdobrar sua doutrina pedagógica. Daí a razão das dificuldades a que aludimos, o que faria um crítico dizer, com evidente exagero, que, sob o ponto de vista do método, o maior mérito de Pestalozzi foi não ter tido ele método.

O acadêmico lusitano Sousa Costa enunciou, em poucas palavras, os princípios basilares da educação pestalozziana: desenvolvimento da atenção, formação da consciência, enobrecimento do coração.

Segundo o biógrafo P. P. Pompée, Pestalozzi achava que todo bom método devia partir do conhecimento dos fatos adquiridos pela observação, pela experiência e pela analogia, para daí se extraírem, por indução, os resultadose se chegar a enunciados gerais que possam servir de base ao raciocínio, dispondo-se esses materiais com ordem, sem lacuna, harmoniosamente. Para Pestalozzi a arte da educação devia aproximar-se da natureza, e o melhor método de ensino seria aquele que dela se aproximasse.

Princípios enunciados e seguidos pelo discípulo (*)

Logo em sua primeira obra, Denizard Rivail relaciona em seis itens os princípios que lhe parecem mais adequados ao ensino à criança, fazendo-o em harmonia com o sistema pestalozziano, como era de se esperar de um discípulo do mestre suíço.

Eis os princípios que o nortearam na elaboração do seu Cours d' ́Arithmétique [Curso de Aritmética], alguns dos quais o guiariam, bem mais tarde, nos estudos e nas pesquisas espíritas e bem assim na Codificação da Doutrina:

1º – Cultivar o espírito natural de observação das crianças, dirigindo-lhes a atenção para os objetos que ascercam.

2º – Cultivar a inteligência, observando um comportamento que habilite o aluno a descobrir por si mesmo asregras.

3º – Proceder sempre do conhecido para o desconhecido, do simples para o composto.

4º – Evitar toda atitude mecânica (mécanisme), levando o aluno a conhecer o fim ea razão de tudo o que faz.

5º – Conduzi-lo a apalpar com os dedos e com os olhos todas as verdades. Este princípio forma, de algum modo, a base material deste curso de aritmética.

6º – Só confiar à memória aquilo que já tenha sido apreendido pela inteligência.

ESDE – FEB (Estudo Sistemático da Doutrina Espírita)(*)
WANTUIL, Zêus & THIESEN, Francisco. Allan Kardec. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002, v. I. Cap. 15, p. 96-97.
(*) WANTUIL, Zêus & THIESEN, Francisco. Allan Kardec. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002, v. I. Cap. 15, p. 98.

O contexto histórico do século XIX na Europa << voltar

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O século XIX representou uma dessas épocas em que fomos especialmente abençoados pela bondade superior, a despeito de todas as dificuldades assinaladas nesse período. Além das enormes contribuições culturais recebidas, fomos imensamente distinguidos pelo advento do Espiritismo, materializado no mundo físico pelo trabalho inestimável do professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail que, ao codificar a Doutrina Espírita, adotou o pseudônimo de Allan Kardec.

Entretanto, é o século que dá início aos grandes movimentos revolucionários europeus que derrubaram o absolutismo, implantaram a economia liberal e extinguiram o antigo sistema colonial, movimentos esses apoiados nas ideias renovadoras da Filosofia e da Ciência,divulgadas no século XVIII por Espíritos reformadores, denominados iluministas e enciclopedistas. Tais ideias, de acordo com o Espírito Emmanuel, constituíram a base para que fossem combatidos, no século XIX, os [...] erros da sociedade e da política, fazendo soçobrar os princípios do direito divino, em nome do qual se cometiam todas as barbaridades. Vamos encontrar nessa plêiade de reformadores os vultos veneráveis de Voltaire [1694-1778], Montesquieu [1689-1755], Rousseau [1712-1778], D ́Alembert [1717-1783], Diderot [1713-1784], Quesnay [1694-1774]. Suas lições generosas repercutem na América do Norte, como em todo o mundo. Entre cintilações do sentimento e do gênio, foram eles os instrumentos ativos do mundo espiritual, para regeneração das coletividades terrestres 14. Enfatiza, ainda, Emmanuel que [...]foi dos sacrifícios desses corações generosos que se fez a fagulha divina do pensamento e da liberdade, substância de todas as conquistas sociais de que se orgulham os povos modernos 14.

Os Estados Unidos foram a primeira nação a absorver efetivamente o pensamento renovador dos iluministas. Assim é que, após alguns incidentes com a metrópole – Grã-Bretanha –, os americanos proclamam a sua independência política, em 4 de julho de 1776, tendo sido organizada, posteriormente, a Constituição de Filadélfia, modelo dos códigos democráticos do futuro 15.

A independência americana repercutiu intensamente na França, acendendo o [...] mais vivo entusiasmo no ânimo dos franceses, humilhados pelas mais prementes dificuldades, depois do extravagante reinado de Luís XV 16. Em consequência, desencadeou-se um poderoso movimento revolucionário em 1789 – a Revolução Francesa –, considerada o marco que separa a Idade Moderna da atual, a Contemporânea. Os sucessivos progressos culturais em todos os campos do saber humano, desencadeados pela Revolução Francesa, foram tão marcantes que o século XIX entrou para a história como sendo o Século da Razão, assim como o século XVIII é denominado o Século das Luzes.

No contexto da história da civilização ocidental europeia[...] o século XIX, tal como os historiadores o delimitam, ou seja, o período compreendido entre o fim das guerras napoleônica se o início do primeiro conflito mundial [...], é um dos séculos mais complexos [...] 7, marcado por um período de profundas transformações político-sociais e econômicas, as quais tiveram o poder de influenciar gerações posteriores.

O contexto histórico europeu do século XIX

1. A Revolução Francesa e as suas consequências

No apagar das luzes do século XVIII, a França, uma monarquia governada por Luiz XVI,é ainda um país agrário, com industrialização incipiente. A sociedade francesa está constituída de três grupos sociais básicos: o clero, a nobreza e a burguesia. O clero, cognominado de Primeiro Estado, representava 2% da população total e era isento de impostos. Havia um grande desnível entre o alto clero, de origem nobre e possuidor de grandes rendimentos originários das rendas eclesiásticas, e o baixo clero, de origem plebeia, reduzido à própria subsistência. A nobreza, conhecida como Segundo Estado, fazia parte dos 2,5% de uma população de 23 milhões de habitantes. Não pagava impostos e tinha acesso aos cargos públicos. Subdividia-se em alta nobreza, cujos rendimentos provinham dos tributos senhoriais,das pensões reais e dos cargos na corte; em nobreza rural, que possuía direitos de senhorio e de exploração agrícola, e em nobreza burocrática, de origem burguesa, que ocupava os altos postos administrativos. Cerca de 95% da população – que incluía desde ricos comerciantes até camponeses – formavam o Terceiro Estado, que englobava a burguesia (fabricantes, banqueiros, comerciantes, advogados, médicos), os artesãos, o proletariado industrial e os camponeses. Os burgueses tinham poder econômico, devido, principalmente, às atividades industriais e financeiras.

No entanto, igualada ao povo, a burguesia não tinha direito de participação política nem de ascensão social. Foi essa situação que desencadeou uma série de conflitos, que culminaram com a Revolução Francesa, de 14 de julho de 17893.A despeito dos inegáveis benefícios sociais e políticos produzidos pela Revolução Francesa, entre eles a célebre Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, seguiram-se anos de terror, que favoreceram o golpe de estado executado por Napoleão Bonaparte, no final do século XVIII. Os sublimes ideais da Revolução Francesa foram desvirtuados, em razão do abuso do poder exercido por aqueles que assumiram o governo do país. Segundo Emmanuel,naqueles anos de terror, a [...] França atraía para si as mais dolorosas provações coletivas nessa torrente de desatinos.

Com a influência inglesa, organiza-se a primeira coligação europeia contra o nobre país[França].[...] Também no mundo espiritual reúnem-se os gênios da latinidade, sob a bênção de Jesus, implorando a sua proteção e misericórdia para a grande nação transviada. Aquela que fora a corajosa e singela filha de Domrémy [Joanna D ́Arc] volta ao ambiente da antiga pátria, à frente de grandes exércitos de Espíritos consoladores, confortando as almas aflitas e aclarando novos caminhos. Numerosas caravanas de seres flagelados, fora do cárcere material, são por ela conduzidos às plagas da América, para as reencarnações regeneradoras, de paz e de liberdade 17.

Entre o final do século XVIII e o início do século XIX (1799 a 1815), a política europeia está centrada na figura carismática de Napoleão Bonaparte, um dos grandes chefes militares da História, administrador talentoso, que, entre outras reformas civis, promulga uma nova Constituição; reestrutura o aparelho burocrático; cria o ensino controlado pelo Estado (ensino público); declara leigo o Estado, separando-o, assim, da religião; promulga o Código Napoleônico – que garante a liberdade individual, a igualdade perante a lei, o direito à propriedade privada, o divórcio – e adota o primeiro Código Comercial 3.

No que diz respeito às ações deste imperador francês, lembra-nos Emmanuel que [...] as atividades de Napoleão pouco se aproximaram das ideias generosas que haviam conduzido o povo francês à revolução. Sua história está igualmente cheia de traços brilhantes e escuros,demonstrando que a sua personalidade de general se manteve oscilante entre as forças do mal e do bem. Com as suas vitórias, garantia a integridade do solo francês, mas espalhava a miséria e a ruína no seio de outros povos. No cumprimento da sua tarefa, organizava-se o Código Civil, estabelecendo as mais belas fórmulas do direito, mas difundiam-se a pilhagem e o insulto à sagrada emancipação de outros, com o movimento dos seus exércitos na absorção e anexação de vários povos. Sua fronte de soldado pode ficar laureada, para o mundo, de tradições gloriosas, e verdade é que ele foi um missionário do Alto, embora traído em suas próprias forças [...] 18.

Após Napoleão, a França passa por um novo período de transformações históricas, uma vez que [...] vários princípios liberais da Revolução foram adotados, tais como a igualdade dos cidadãos perante a lei, a liberdade de cultos, estabelecendo-se, a par de todas as conquistas políticas e sociais, um regime de responsabilidade individual no mecanismo de todos os departamentos do Estado. A própria Igreja, habituada a todas as arbitrariedades na sua feição dogmática, reconheceu a limitação dos seus poderes junto das massas, resignando-se com a nova situação 19.

O movimento democrático na França mistura política e literatura. Assim, numerosos escritores se engajam na luta política e social, através de suas obras e ação. Desse modo,Lamartine e Víctor Hugo são eleitos deputados, tornando-se o próprio Lamartine – que muito contribuiu para o advento da República – chefe do governo provisório. Muitos desses escritores, como Zola, militam na causa republicana ou socialista 8.

Sob o regime da Restauração, as questões mais importantes são as de ordem política: o partido liberal exige a aplicação da Carta (Constituição) e um alargamento da liberdade que ela garante. Os liberais, como Stendhal e Paul-Louis Courier, são anticlericais. Chateaubriand torna-se liberal, e prevê o advento da Democracia 9.

2. A Revolução Industrial e as suas repercussões

Outra revolução, iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, a Revolução Industrial, acarretou profundas transformações na sociedade, modificando a feição das relações humanas dentro e fora dos países. Serviu de alavanca para o progresso tecnológico que presenciamos nos dias atuais, pela invenção de máquinas e de equipamentos cada vez mais sofisticados. Propiciou o desenvolvimento das relações internacionais, em especial nas áreas econômicas, comerciais e políticas, transformando o mundo numa aldeia global. Conduziu à urbanização de ajuntamentos humanos e à construção de modernos cercamentos (propriedades rurais). Desenvolveu a rede de comunicações de curta e de longa distância, principalmente pelo emprego inteligente da energia elétrica e da eletrônica. Ampliou os meios de transportes, em especial o marítimo e o aéreo. Favoreceu as pesquisas médico-sanitárias voltadas para o controle das doenças epidêmicas, resultando no aumento das faixas da sobrevida humana 4.

A Revolução Industrial, no entanto, produziu igualmente várias distorções e malefícios,de certa forma esperados, se se considerar o relativo atraso moral da nossa Humanidade. Os principais desequilíbrios produzidos pela Revolução Industrial são, essencialmente,decorrentes das relações trabalhistas, infelizmente caracterizadas pela exploração do trabalho e pelas deficientes condições de segurança e higiene laborais, ocorridas em gradações diversas 4.

É oportuno considerar que os ideais da Revolução Francesa e os princípios da Revolução Industrial se espalharam, como um rastilho de pólvora, por todo o continente europeu, estimulando revoluções liberais, que incitavam a burguesia e os trabalhadores a ações contra o poder constituído. A Europa do século XIX assemelha-se a um caldeirão em constante ebulição, afetando o cotidiano das pessoas, em decorrência das contínuas mudanças no campo das ideias, na organização das instituições, na definição das formas de governo, e em virtude dos embates político-sociais, das conquistas científicas e tecnológicas, das planificações educativas, dos questionamentos religiosos e filosóficos.

3. Manifestações artísticas e culturais do século XIX

As atividades artísticas e culturais do século XIX revelam uma preferência predominantemente romântica. O romantismo influencia as ideiaspolíticas e sociais abraçadas pela burguesia revolucionária da primeira metade do século, associando as manifestações românticas aos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. A inspiração do artista romântico era buscada junto das pessoas simples, numa manifestação antielitista e antiaristocrática. Pesquisava-se a cultura popular e o folclore para a produção de pinturas, esculturas e peças musicais.As obras românticas de caráter épico destacam o heroísmo. O ideário artístico estava diretamente relacionado à realidade das lutas políticas e sociais da época: os sacrifícios da população, o sangue derramado nas batalhas e até as dificuldades encontradas nas disputasamorosas5.No que diz respeito à produção literária, sobressai, na Alemanha, o poeta Göethe (1749-1832), que, em Fausto –uma de suas mais importantes obras –, enaltece a liberdade individual, tema repetido em seus demais trabalhos 5.Na França, destaca-se a figura de Víctor Hugo, que ocupa lugar excepcional na história das letras francesas. Grande parte de sua obra é popular pelas ideias sociais que difunde, e pelos sentimentos humanos, nobres e simples que ela canta. No livro Napoleão, o Pequeno, Víctor Hugo critica o governo de Napoleão III. Em Os Miseráveis, denuncia, como ninguém até então fizera, o estado de penúria dos pobres 13.As artes plásticas, inspiradas no classicismo greco-romano, têm como exemplos mais importantes o Arco do Triunfo e as colunas existentes em Paris, construídas por ordem de Napoleão Bonaparte. Jacques-Louis David (1746-1828) legou à posteridade famoso quadro sobre o assassinato de Jean-Paul Marat, um dos líderes da Revolução Francesa.O pintor francês Eugène Delacroix (1798-1863) –líder do movimento romântico na pintura francesa –retrata no quadro A Liberdade uma mulher que, segurando a bandeira tricolor francesa, guia o povo nas dramáticas jornadas revolucionárias 5.No campo das composições musicais ocorre uma reviravolta. O virtuosismo do século anterior é substituído por interpretações musicais de forte colorido emocional. A música paraos românticos não era só uma obra de arte, mas um meio de comunicação com o estado de alma. Os grandes compositores românticos captam e executam peças musicais que destacam o momento político. Um dos compositores que demonstra de forma notável essa relação é Richard Wagner (1813-1883). A composição musical Lohengrin revela a forte influência dos socialistas utópicos e dos revolucionários da época. Beethoven (1770-1827) homenageia Napoleão Bonaparte em sua Nona Sinfonia. A Rapsódia Húngara, de Liszt (1811-1886), e as Polonaises, de Chopin (1810-1849), são verdadeiros panfletos de manifestações nacionalistas. O nacionalismo, na produção das óperas de Rossini (1792-1868), Bellini (1801-1835) e Verdi (1813-1901), transmite um apelo pungente à unificação da Itália. O surgimento dessa forma de ópera determina a passagem da música de câmara para a música dos grandes teatros, onde um grande número de pessoas poderia ter acesso aos espetáculos artísticos 5. Ao idealismo romântico contrapõe-se o Realismo, que professa o respeito pelos fatos materiais, e estuda o homem segundo o seu comportamento e em seu meio, à luz das teoriassociais ou fisiológicas. Escritores realistas como Stendhal, Balzac, Flaubert, e naturalistas comoZola, escreveram romances com pretensões científicas. Zola imita o método científicoexperimental do biólogo Claude Bernard 10, 12.Na segunda metade do século XIX, a pintura europeiapassa por uma verdadeiratransformação, desencadeada pelo movimento chamado Impressionismo.Os pintores impressionistas procuram captar o cotidiano da vidaurbana e do campo,buscando registrar nas telas as impressões dos efeitos da luz sobre a cena desejada. Ospintores mais importantes desse movimento foram Édouard Manet (1832-1883), ClaudeMonet (1840-1926), Renoir (1841-1920), Cézanne (1839-1906) e Degas (1834-1917) 5.

4. Manifestações filosóficas, políticas, religiosas, sociais e científicasdo século XIX

Para Emmanuel, o [...] campo da Filosofia não escapou a essa torrente renovadora.

Aliando-se às ciências físicas, não toleraram as ciências da alma o ascendente dos dogmas absurdos da Igreja. As confissões cristãs, atormentadas e divididas, viviam nos seus templos um combate de morte. Longe de exemplificarem aquela fraternidade do Divino Mestre, entregavam-se a todos os excessos do espírito de seita. A Filosofia recolheu-se, então, no seu negativismo transcendente, aplicando às suas manifestações os mesmos princípios da ciência racional e materialista. Schoupenhauer [1788-1860] é uma demonstração eloquente do seu pessimismo e as teorias de Spencer [1820-1903] e de Comte [1798-1857] esclarecem as nossas assertivas, não obstante a sinceridade com que foram lançadas no vasto campo das ideias 21. De acordo com o Positivismo de Auguste Comte, a humanidade ultrapassou o estado teológico e o estado metafísico ao penetrar o estado positivo, caracterizado pelo sucesso dos conhecimentos positivos, fundados numa certeza racional e científica. Tais ideias conduzem aos exageros do cientificismo, em que a fé na Ciência se torna a verdadeira fé. Acredita-se que ela vá resolver todos os problemas, elucidar todos os mistérios do mundo; tornar inúteis a religião e a metafísica. Este entusiasmo é revelado na conhecida obra literária de Renan: L ́Avenir de la Science (O Futuro da Ciência).

Em relação às ideias anarquistas e às ideologias socialistas da sociedade da época,essas concepções ainda repercutem nos dias atuais. O Anarquismo, como sabemos, representa um conjunto de doutrinas que preconizam a organização da sociedade sem nenhuma forma de autoridade imposta. Considera o Estado uma força coercitiva que impede os indivíduos de usufruir liberdade plena. A concepção moderna de anarquismo nasce com a Revolução Industrial e com a Revolução Francesa. Em fins do século XVIII, William Godwin (1756-1836) desenvolve o pensamento anárquico, na obra Enquiry Concerning Political Justice.

No século XIX surgem duas correntes principais do Anarquismo, de ação marcante na mentalidade dos povos. A primeira encabeçada pelo francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), afirma que a sociedade deve estruturar sua produção e seu consumo em pequenas associações baseadas no auxílio mútuo entre as pessoas. Segundo essa teoria, as mudanças sociais são feitas com base na fraternidade e na cooperação. O russo Mikhail Bakunin (1814-1876) é um dos principais pensadores da outra corrente, também chamada de Coletivismo. Defende a utilização de meios mais violentos nos processos de transformação da sociedade, e propõe a revolução universal sustentada pelos camponeses (campesinato). Afirma que as reformas só podem ocorrer depois que o sistema social existente for destruído. Os trabalhadores espanhóis e italianos são bastante influenciados por Bakunin, mas o movimento anarquista nesses países é esmagado pelo surgimento do Fascismo. O russo Peter Kropotkin (1842-1876) é considerado o sucessor de Bakunin. Sua tese é conhecida como anarcocomunista e se fundamenta na abolição de todas as formas de governo, em favor de uma sociedade comunista regulada pela cooperação mútua dos indivíduos, em vez da oriunda das instituições governamentais. Essas ideias resultaram no surgimento do Marxismo, que, de socialismo científico, transforma-se em crítico do regime capitalista, tendo como base o materialismo histórico 8. Assim, em 1848, o Manifesto do Partido Comunista, de autoria dos alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), afirma que o comunismo seria a etapa final da organização político-econômica humana. A sociedade viveria em um coletivismo, sem divisão de classes e sem a presença de um Estado coercitivo.

Para chegar ao Comunismo, no entanto, os marxistas preveem um estágio intermediário de organização, o Socialismo, que instauraria uma ditadura do proletariado para garantir a transição. Esses movimentos políticos também confrontam as práticas religiosas conduzidas pela Igreja Católica que, desviada dos princípios morais do estabelecimento de um império espiritual no coração dos homens, aproxima-se em demasia das necessidades políticas da nobreza reinante na Europa. Essa aproximação com o poder real trouxe consequências desastrosas, abrindo espaço a discussões sobre o papel desempenhado pela Igreja em particular, e pela religião, considerada como sinônimo de movimento religioso de igreja – católica ou reformada –, equívoco que ainda norteia o pensamento religioso da maioria dos europeus dos dias atuais. Nesse contexto, surge o Catolicismo Social, movimento criado por Lamennais, que buscava um ideal de caridade e de justiça, conforme os ensinos do Evangelho. Lamennais rompe com a Igreja e se torna abertamente socialista. Lacordaire e Mont ́Alembertse submetem sem abandonar a ação generosa (caridade e justiça) 11. A fragilidade demonstrada pela Igreja Católica, frente aos contumazes ataques que recebia, abriu espaço à expansão das doutrinas divulgadas pelas igrejas reformadas. Na verdade, a propagação do Protestantismo na Europa e na América – da mesma forma que a multiplicidade de interpretações doutrinárias surgidas ao longo de sua evolução histórica –, estava ocorrendo desde o século XVI. Os questionamentos levantados sobre o papel da religião, num período em que a sociedade estava submetida a um racionalismo dominante,conduziram teólogos e intelectuais protestantes do século XIX a um reexame dos textos bíblicos, e até a um estudo crítico da razão de ser do Cristianismo.

Nasciam, a partir daquele momento histórico, as teorias sobre a salvação pela fé,dogma considerado imprescindível à experiência religiosa de cada pessoa e à necessidade social que o homem tem de crer em Deus e de senti-lo.

No campo da Ciência, as mudanças foram significativas, fundamentais ao progresso científico e tecnológico dos dias futuros: a descoberta do planeta Netuno por Leverrier; os trabalhos de Louis Pasteur sobre microbiologia; os estudos de Pierre e Marie Curie no campo das energias emitidas pelo rádio, e a teoria da origem e evolução das espécies, de Charles Darwin. O surgimento da máquina a vapor revoluciona os meios de transportes. O desenvolvimento da indústria e sua concentração progressiva levam a um aumento considerável do proletariado urbano e da acuidade das questões sociais. O movimento industrial necessita de operações bancárias e permite a edificação de novas fortunas. A burguesia rica acelera sua ascensão e torna-se a classe dominante, força política e social. O dinheiro é tema literário de primeiro plano, com cuja inspiração os autores pintam a insolência de seus privilegiados ou a miséria de suas vítimas.

Em [...] confronto com todas as épocas precedentes, o período que vai de 1830 a 1914 assinala o apogeu do progresso científico. As conquistas desse período não só foram mais numerosas,mas também devassaram mais profundamente os segredos das coisas e revelaram a natureza do mundo e do homem, projetando sobre ela uma luz até então insuspeitada [...]. O fenomenal progresso científico dessa época resultou de vários fatores. Deveu-se, até certo ponto,ao estímulo da Revolução Industrial, à elevação do padrão de vida e ao desejo de conforto e prazer.

Todavia, é importante assinalar que uma revolução diferente marcou, também, esse período. Falamos da revolução moral proposta pelo Espiritismo nascente: O século XIX desenrolava uma torrente de claridades na face do mundo, encaminhando todos os países para as reformas úteis e preciosas. As lições sagradas do Espiritismo iam ser ouvidas pela Humanidade sofredora. Jesus, na sua magnanimidade, repartiria o pão sagrado da esperança e da crença com todos os corações.

Allan Kardec, todavia, na sua missão de esclarecimento e consolação, fazia-se acompanhar de uma plêiade de companheiros e colaboradores, cuja ação regeneradora não se manifestaria tão-somente nos problemas de ordem doutrinária, mas em todos os departamentos da atividade intelectual do século XIX 20.

Referências

ESDE –FEB (Estudo Sistemático da Doutrina Espírita)
1. AMORIM, Deolindo. O espiritismo e os problemas humanos. Rio de Janeiro: Mundo Espírita, 1948. Cap. 34, p.170.
2. ______. Transição inevitável. O espiritismo e os problemas humanos. São Paulo: USE, 1985, p. 23.
3. AMARAL, Jesus S. F. [et al.]. Enciclopédia mirador internacional. São Paulo: 1995. (Revolução francesa), vol.18. Item III, p. 9852-9859.
4. ______. (Revolução industrial), p. 9877-9881.
5. BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental. 3. ed. Porto Alegre: Globo, 1975. Progressointelectual e artístico durante a época da democracia e do nacionalismo, p. 661.
6. ______. p. 792.
7. RÉMOND, René. O século XIX. Tradução de Frederico Pessoa de Barros. 12. ed. São Paulo: Cultrix. Oscomponentes sucessivos, p. 13.
8. LAGARDE, André et MICHARD, Laurent. XIXe Siècle. Les grands auteurs français du programme. Paris:Bordas, 1964. Introduction (Le mouvement démocratique), vol. 5, p. 7-8.
9. ______. p. 8.
10. ______. (Le réalisme), p. 11.
11. ______. (Le socialisme), p. 8.
12. ______. (Le progrès scientifique et industriel), p. 9.
13. ______. Victor Hugo, p. 153.
14. XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 33. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006.Cap. 21 (Época de transição), item: Os enciclopedistas, p. 185.
15. ______. (A independência americana), p. 186.
16. ______. Cap. 22 (A revolução francesa), p. 187.
17. ______. (Contra os excessos da revolução), p. 189.
18. ______. (Napoleão Bonaparte), p. 192-193.
19. ______. Cap. 23 (Depois da revolução), p. 196.
20. ______. (Allan Kardec e os seus colaboradores), p. 197.
21. ______. (As ciências sociais), p. 198-199.

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